sexta-feira, 29 de abril de 2016

RUDRIGU - Entrevista para a Urban F Magazine - revista online de moda e cultura urban

Desde que idade te dedicas a dança?

Olá eu sou o Rudrigu , dedico-me à Dança dentro da Cultura Hip Hop há sensivelmente 15 anos e sou um orgulhoso albufeirense a residir atualmente em Lisboa.
Como e quando começou a tua paixão pela dança?
Foi um pouco por acaso, mas é quase sempre assim não é?
Em plenos anos 90, passei por tudo, desde wannabe writer ao ter estragado completamente as paredes do meu quarto entre outras paredes que não posso aqui referir (ahaha) , a wannabe Mc (faziamos uns ensaios numa radio local...a Kiss Fm). Nesses ensaios conheci um dos pioneiros no Djing e Scratching em Portugal...o DJ Sundance. Ele tinha material em VHS e um dia insistiu comigo para ver o filme Beat Street. Foi a primeira vez que vi B-boying, Popping, Locking... O meu pai tinha uma boa colecção de vinyl de James Brown, Stevie Wonder, Otis Reading , Jackson 5, Imagination ,etc e ouvia-se muito na minha casa. Creio que isso terá também contribuido. De resto só materializei esta paixão anos mais tarde quando em Quiaios, num evento de estudantes vi um rapaz chamado Dário (de Coimbra) a dar uma masterclass de Hip Hop . Foi das primeiras vezes que vi Hip Hop Dance em Portugal.

Sempre estiveste envolvido profissionalmente nesta área?

Sempre estive envolvido na área do Desporto, do Ensino e da Dança. Claro que inicialmente como curioso, fan , entusiasta, estudante e só mais tarde como profissional.
Fala-nos um pouco do teu percurso na dança.
O meu percurso na Dança....passa pela Universidade, formações cá mas também fora do país, centenas de alunos, milhares de aulas, milhões de horas de treino invariavelmente sozinho, montes de experiências positivas e boas amizades. Eventos memoráveis relembro atuação no Estádio da Luz na Gala New Seven Wonders, a International Urban Dance Battle na Hungria, espetáculo de homenagem a Michael Jackson no Olga Cadaval ou mais recentemente o Espetáculo “()no Movimento” no TEMPO. Ao nível do ensino há mais de dez anos que sou Professor no International sports Meeting e já coreografei e dançei para várias crews.

Tens algum artista na área que tomes como referência?

Não tenho não, assim nenhum bailarino que seja “A” referência. Claro que tenho imenso respeito pelos originais e pioneiros.... eles abriram o caminho para todos nós.... mas sinceramente já passei essa fase, dos ídolos.... com a maturidade vamos percebendo que todos somos iguais com mais ou menos defeitos e qualidades. As minhas referências acabam por ser as pessoas que me são próximas e estão no meu circulo e que me inspiram a ser uma pessoa melhor, dentro e fora da Dança.

Tens alguma inspiração? Quem?

Sim, como respondi na pergunta anterior e nomeando alguns , a Carolina Tendon, a Mariana Rodrigues, o Kevin Zoltan Scholle, a Patricia Rebelo, o Pedro Pinto (Kimahera), o Fernando Lopes, o fotógrafo Fábio Martins, o Bruno (Repto), a Márcia, os meus avós e claro não me posso esquecer os meus alunos. Estes são as minhas grandes inspirações.

Para ti, é possível viver da dança, no nosso país?

Não é impossível , tenho alguns amigos que só vivem de trabalhos comerciais, outros que só vivem do ensino, outros que estão em companhias, e por aí fora. Claro que também existem milhares que não o conseguem... e subsistem de outras atividades...O problema todo ganha forma... quando tens problemas de saúde, quando passas os 40 ou 50 anos, a situação fiscal , os direitos e as obrigações legais, etc etc... Aí ainda existe um longo caminho a percorrer.

Sentes que os portugueses apoiam a arte?

Os portugueses são excelentes apreciadores de Arte, e são excelentes críticos, seja para o bem ou para o mal. Só falta valorizarmos um bocadinho mais a Arte . Falta ter a consciência que comprarmos online uma música por um euro , darmos uma moeda ao artista de rua , pagar por uma formação de Dança , comprar um livro ou ver um espetaculo de teatro é no fundo suportarmo-nos e apoiarmo-nos todos uns aos outros …. e é bem mais significativo do que termos uma peça de roupa da moda ou o ultimo modelo de smartphone. Penso que existem duas franjas de população : a pequena minoria que tem capacidade económica para apoiar seja o que for e a geração de teens ou jovens adultos que ainda não trabalham e são independentes e por isso até gostavam muito de apoiar mas não podem. Tal como disse antes, é a maioria situada entre estas duas franjas que falta consciencializar. Por vezes basta apenas um pequeno passo e dar o exemplo...

O que é a dança para ti?

É uma das bonitas páginas do livro da minha vida. É uma sensação e experiência que recomendo a toda a gente. Como a Carolina escreveu “Se acham que já são felizes, então experimentem dançar!”

Quando ouves a palavra “dança” qual é a primeira coisa que te vem à cabeça? O que é que sentes?

O que me vem à cabeça é alegria , Funk , bounce , expressão.

Sabemos que és membro de um grupo, os “OhMyGod Family”. Fala-nos um pouco da história deste grupo.

Fundei o grupo pela necessidade de existir um grupo que evoluísse dentro do Hip Hop (old school e new school) no Algarve...a oferta de Dança existente na altura era nula.... creio que no que à Cultura Hip Hop diz respeito fomos uma grande pedrada no charco... fizémos imensas coisas, numa altura em que não haviam os meios e as academias que existem atualmente. Hoje até me rio disso... mas chegámos a treinar em parques de estacionamento de supermercado ou na praia ao som do radio do meu carro.. ou num ginásio cedido onde eu trabalhava... mas é como alguém disse... o sonho comanda a vida... Depois de ter sido formador num curso de Dança decidi convidar os melhores alunos desse curso para integrarem o grupo... a Liliana, a Ana Sofia e a Carolina. Mais tarde entrou a Mariana , o Speedy e por algum tempo a Andreia... Participámos em vários eventos, competições, atuações....sempre numa perspectiva de crescermos juntos.
Atualmente, alguns seguiram outros caminhos, a Carolina como é sabido infelizmente já não se encontra entre nós, mas orgulho-me de dizer que o sonho continua vivo.... acordo todos os dias com vontade de fazer o que mais gosto e sentir-me recompensado por isso, a minha mana Mariana evolui num dos prestigiados grupos deste país, outros elementos passaram também pelo ensino e por outros projetos... e o grupo foi acolhido pela editora Kimahera, uma das raras editoras independentes de Hip Hop em Portugal. A Sara Pina juntou-se a nós com várias colaborações, e continuamos ativos e , (passe a redundância) a vivermos os nossos sonhos.

Se tivesses que descrever a dança e o que esta significa para ti numa palavra, qual seria? Porquê?


A palavra seria “alegria” por tudo o que referi ao longo desta entrevista. Peace, Love, Unity , Having Fun !!!

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